Taveira's Advogados

Taveira's Advogados

domingo, 13 de maio de 2012

Unanimidade burra


O cronista e jornalista Nelson Rodrigues (1912-1980) dizia que “toda unanimidade é burra”. Ele está certo! Muitas vezes uma opinião comum e simplista é tomada como verdade absoluta por ser uma posição da maioria dos indivíduos. Outras vezes aquele indivíduo que pensa diferente de uma ideia predominante é perseguido por ser minoria. A democracia é um regime propício para tais posturas. É um vício que lhe é inerente.

Na obra A Democracia na América Alexis de Tocqueville (1805-1859) afirma que existe na democracia uma espécie de “ditadura da maioria”, pois: “É da própria essência dos governos democráticos o fato de o império da maioria ser absoluto”. Para o pensador francês há um senso comum de que muitos homens reunidos têm mais sabedoria do que um só (a famosa balela de que “a voz do povo é a voz de Deus”). Uma das consequências é a perda da autonomia dos indivíduos nesta massa uniforme. Os indivíduos podem ser coagidos a agirem como faz a maioria. É um vício natural do governo democrático. Muitas vezes os indivíduos devem deixar de lado suas posições para se conformarem à visão da multidão.

Um exemplo formidável sobre a atuação da “ditadura da maioria” é oferecido por Tocqueville. O pensador cita a atividade intelectual de um escritor. Dentro de certo limite o escritor pode falar sobre quaisquer coisas, pois o “pensamento é livre”, entretanto, há um círculo posto pelo pensamento da maioria do qual o escritor não pode sair. Ao falar sobre coisas que fujam deste círculo ele será automaticamente excluído pelos demais cidadãos, e aqueles que pensam como ele ficarão calados por medo e covardia. Por fim, ele mesmo ou terá que se calar ou será um eterno excluído. Se antes as ditaduras atacavam somente o corpo, agora vão direto à alma. Inclua no exemplo a expressão “ir contra o politicamente correto” e teremos nossa época descrita. 

Será ao longo dessa pretensa democracia que os homens medíocres (os que se colocam como “maioria”) se esconderão individualmente, expondo-se justamente como “maioria”, levando em consideração que o que pensam está certo, já que a maior parte dos indivíduos fala/pensa assim. O que temos visto hoje em dia é uma passividade reflexiva em prol de um pensamento definitivo predominante. A reflexão inexiste, sendo um artigo raro em nosso tempo. 

No momento que lhes são pedidas justificativas para suas pretensas afirmações o homem médio fica sem saber o que falar, já que é um “pensamento natural” (da maioria) o que tem como sendo sua posição. Nem ele sabe por que pensa de determinada maneira. Restam-lhe a esse homem quando seus valores são questionados a demagogia, os sentimentalismos e os ataques pessoais. 

A “unanimidade burra” se transverte, hoje em dia, numa grande perseguição ideológica, que propõem soluções fáceis e mirabolantes para todos os problemas da humanidade (ai daqueles que não rezam as cartilhas ideológicas!). Tenho grande receio quando alguma ideologia se torna dominante, mesmo que ela seja razoável, pois é nesse instante que os medíocres tomam conta de tudo.


Por: Émilien Vilas Boas Reis


Nenhum comentário:

Postar um comentário