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quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Dizimo.


O dízimo goza de longa tradição bíblica. O povo de Israel se entendeu como criação de Javé que o regalou com as terras da Palestina para se sustentar. Por isso ele impôs aos habitantes contribuição obrigatória a ser entregue ao santuário para sustentar os sacerdotes, levitas, o rei, os gastos decorrentes do cuidado do Templo, sinais de sua presença no meio do povo.  Tinha-se a consciência de que a Javé, como dono de toda a terra, cabia o direito de exigir para si as primícias das colheitas e animais perfeitos. Criou-se legislação bem rigorosa e pormenorizada para garantir a qualidade dos bens oferecidos. A Deus se dá o melhor, como ao Senhor de tudo.

A instituição concreta assumiu formas diversas. O termo dízimo não se tomava ao pé da letra de décima parte, mas simbolizava quantidades variadas. Os pobres se incluíam entre os destinatários dessa oferta.

No Novo Testamento, os atos dos apóstolos nos falam de coletas para sustentar os missionários. Paulo defendeu o direito de eles serem sustentados pelas comunidades, embora ele mesmo tivesse renunciado a tal. Preferiu trabalhar como tecelão de rendas.

As comunidades da Igreja católica atualmente têm implantado regularmente a pastoral do dízimo a fim de obter os recursos materiais para manter os ministros e o funcionamento dos seus serviços além de ampla ajuda aos carentes.

Essa pastoral na Igreja católica tem causado certo constrangimento por causa da associação com a prática escorchante de certas denominações evangélicas. Lançaram-se imagens na publicidade de cenas deprimentes de nítido abuso da boa intenção de pessoas simples por parte de alguns pastores gananciosos. Sendo assim, a insistência por parte de paróquias aparece como contaminação e imitação de tais igrejas.

Trata-se de outra perspectiva. A pastoral do dízimo vai ao encontro de necessidade incontornável para a sustentação das estruturas pastorais. As espórtulas esporádicas, que hoje se reduziram grandemente e que também geram a impressão de comercializar os sacramentos, cedem lugar à visão da responsabilidade de todos da comunidade para sua manutenção.

O dízimo acorda o fiel para real participação na vida da comunidade. Os bens materiais na leitura bíblica significam sinais de algo maior. Eles não valem por eles mesmos, mas exprimem a bênção de Deus à humanidade. Relembram, em última instância, o gesto criador de Deus. A prática do dízimo serve para que o fiel se comporte diante deles com liberdade e manifeste grandeza de espírito. Não se apega aos bens terrestres como valores maiores da vida. Soam-lhe as palavras de Jesus. “Ninguém pode servir a dois senhores” e “vós não podeis servir a Deus e ao dinheiro” (Lc 16,13). Ao arrematar a reflexão, Jesus nos adverte: “Pois onde está o teu tesouro, ali também estará o teu coração”. Oxalá a comunidade de que participamos seja nosso tesouro e não o dinheiro, porque aí estará o centro de nossa pessoa.

João Batista Libânio.

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